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Corpo e obesidade

Não é somente sobre o corpo magro ou o corpo obeso que tratamos em Psicanálise, mas da insatisfaçao geral com a aparência, a obesidade, o sobrepeso, a anorexia, vigorexia e o excesso de preocupação com a aparência tem em comum a distorção da própria imagem.  A imagem que temos do nosso próprio corpo é formada na infância. E Freud nos dizia que o corpo e o eu são a mesma coisa, o eu não existe sem  corpo, sem uma imagem, e é assim que criamos a nossa identidade. A nossa identidade é inseparável da imagem que temos de nós mesmos e de toda a nossa subjetividade, o corpo é atravessado pela linguagem, pela palavra, pela fala do outro em direção a nós. Do que se trata então um corpo obeso? ou anorexico? Ou exageradamente forte? São questões que precisam de uma psicanálise para serem respondidas, são emaranhados de informações e associações dessa fase da infância que formou nossa imagem como ela é hoje e para poder atuar sobre algo, primeiro precisamos saber o que é esse algo. Então para podermos atuar sobre a imagem que temos, primeiro precisamos saber do que se trata, o que é, de que forma a linguagem, a cultura, os pais e etc atravessou nosso inconsciente e resultou no que somos hoje.

O que sentem as pessoas que sofrem com a comida?

O que a Psicanálise pode fazer por mim?
 

A impotência é um sentimento bastante presente quando diante de um alimento qualquer a pessoas não consegue simplesmente não comê-lo, algo, talvez uma força inexplicável, impele a pessoa a comer, é impossível dizer não, é um imperativo, uma ordem. O Eu está enfraquecido, ele simplesmente obedece ao imperativo recebido, o eu da pessoa que sofre com excesso de peso é recriminado e rebaixado o tempo todo pela própria pessoa que sofre, a comparação e o sentimento de inferioridade está sempre presente

A comida e o comer é a ponto do iceberg. Só nos mostra que algo aconteceu muito cedo no desenvolvimento psíquico e que a comida foi um modo usado para poder dar conta de uma presença excessiva.  A psicanálise vai ajudar o analisando a desvendar  a função que a gordura desempenha em sua vida e às relações criadas com a criança e pela criança através da transmissão das experiências pelos pais, do que com o fato de comer ou a comida. 

Só desvendar não é suficiente é preciso dar a oportunidade para o analisando de ele próprio encontrar a melhor caminho para dar novos significados a essas experiencias e funções. 

Trechos do meu e-book: Meu corpo, minha dor (Juliana luizetto de Lucca, 2024)

A relações com o corpo e a comida se constrói na primeira infância, e podemos adicionar a transmissão dos significados dados ao corpo e a comida no meio familiar. É desse emaranhado de pensamentos, emoções, sensações, sentimentos, valores e significados que emerge um entendimento dessas 2 relações, que na verdade, estruturam o psiquismo de cada um.

Comentando um trecho do e-book onde está explicado como se da a relação com a comida na infancia e que nada tem a ver com força de vontade ou falta de amor próprio.

Vida Financeira
 

Vou repetir a história que ouvi da professora, ela começou pelos bisavós da protagonista da história. Os bisavós paternos eram imigrantes italianos. Chegados ao Brasil, foram, como a grande maioria deles, trabalhar na lavoura. Com os anos, o casal tinha muita terra; essa família e outra família eram grandes latifundiários da região. Essas duas fazendas, conforme as coisas foram evoluindo, acabaram virando uma cidade no interior do Paraná.

    Percebe-se que a família tinha muita terra e provavelmente a lavoura era bem grande. Foram comprando negócios e os filhos já casados foram herdando, e a fazenda foi sendo desfeita para virar a cidade que é hoje. Apesar de todo o dinheiro, viviam como pessoas pobres; o avô da protagonista precisou vender uma bicicleta para poder se casar; a mãe do avô passava refinados e caros ternos de linho branco para que o marido pudesse frequentar todos os dias um bordel. Quando o patriarca morreu, esse filho que vendeu a bicicleta deixou os irmãos ficarem com a maior parte da herança, inclusive um cartório que a família tinha na cidadezinha. Esse filho nunca conseguiu ter dinheiro, teve muitos bons empregos, mas gastava tudo o que ganhava com mulheres, inclusive construindo casas para elas; também perdia seus empregos porque, para favorecer essas mulheres, descumpria algumas regras da empresa onde trabalhava.

         A família desse senhor só tinha casa para morar porque sua mulher herdou um dinheiro do pai dela e comprou a casa. A esposa não vinha de família rica, muito pelo contrário, vinha de família pobre, também de imigrantes italianos. Por causa dela, seus filhos conseguiram estudar e se formar na faculdade. Essa família que o filho do fazendeiro formou era muito pobre, mesmo nas fases boas, devido ao gasto do pai com mulheres. O pai acabou vivendo do mesmo jeito que o seu pai viveu. O seu pai tinha e gastava, mas não dava conforto à família; ele tinha algumas vezes e também não dava conforto à família, fazia o que seu pai fazia, gastava com mulheres. O pai da protagonista estudou, teve uma boa profissão, teve negócio próprio por 25 anos, comprou terras, criou bois, mas a sua família também vivia como uma família pobre, não miserável, mas pobres.

       Ele sempre viveu como pobre, nunca realizou o sonho de conhecer a Itália, por exemplo, mesmo tendo condições suficientes. Teve muitas mulheres, mas não dava dinheiro a elas. Esse filho foi quem, um dia, estava no trabalho do pai e sobre a mesa de trabalho do sr. tinha um telefone, naquela época não existia ramal, existia extensão, esse menino ouviu a conversa, diziam que seu pai ia ser despedido porque estava concedendo empréstimos a sua amante e isso não era permitido. Chegando em casa, perguntou a sua mãe o que era amante.

           Não fica muito claro ainda qual o significado do dinheiro nessa família, mas podemos perceber dois grandes mitos, sexo e dinheiro. A protagonista e seus irmãos não conseguem ganhar dinheiro como o pai, e o que ganham tem uma dificuldade enorme de gastar, não falta nada, mas vivem tendo que apertar os gastos, coisa que ela ouvia muito quando criança. Ela estava naquele momento tratando esse sintoma familiar.

           Mas por que contei tudo isso? Para que possamos perceber que existe um padrão sobre o dinheiro. Por mais que exista o dinheiro, é como se não existisse. O pai da protagonista aprendeu que se soltasse dinheiro para quem fosse, ele ia ficar sem; os filhos não viram dinheiro circular na família e nem fora dela. Eles só viam que o pai tinha e não usava. A vida deles segue da mesma maneira de quando crianças, nunca tem, mas quando precisa aparece. Podemos perceber que para os pais, bisavô, vô e pai, o acesso ao dinheiro era maior do que o dos filhos.

            É interessante também observar que nenhum deles casou-se com pessoas de dinheiro, nem a protagonista e seus irmãos. Também vale lembrar que nessa família se casavam entre italianos e descendentes de italianos; nenhum lado nem paterno e nem materno de todas as gerações casaram-se com origens diferentes da italiana, não houve mistura, tanto do lado materno quanto paterno. Até chegar na geração da protagonista onde isso deixou de acontecer.

Não é fácil entender a transmissão feita do significado do dinheiro nessa família. Tem várias coisas entrelaçadas, inclusive o sexo e a própria origem italiana. Também dificulta porque a análise dessa pessoa estava iniciando a tocar nesse assunto quando o caso foi dividido na faculdade

Um outro caso tratava-se de lealdade familiar; ninguém na família podia ter habilidades que o pai não tinha, e isso era aceito também pela mãe. O filho com mais habilidades era rechaçado pela família e maltratado. O pai sempre foi muito pobre; a realidade dos filhos é essa, pobreza, não miséria, mas muita pobreza. O filho com habilidades de diversos tipos foi tão rechaçado que não conseguia entender o valor do seu trabalho e não conseguia ganhar dinheiro suficiente para manter sua vida estável. Assim como o pai, os chefes exploravam suas habilidades e não pagavam o que ele merecia ganhar, uma forma de rechaçá-lo. Naquele momento, ele tinha sido demitido, não recebeu o acerto e o chefe o havia ameaçado caso entrasse na justiça. Um amigo o ajudou conseguindo um bom emprego, com o salário no valor que o protagonista disse que precisaria de início. A empresa precisava ajudar os funcionários para mantê-los lá; era longe e tinha dificuldade de achar gente que ficasse ali. Para trabalhar lá, o protagonista precisava se mudar, e o dono já havia dito que se desse certo depois do período de experiência poderia construir uma casa para o casal com a filha; a empresa constrói casas para os funcionários, dependendo do tipo de serviço. O amigo trabalhava lá e sabia que dava para confiar e que ele teria oportunidades melhores ali mesmo. Mas o desejo inconsciente de permanecer nessa situação para ser leal com o pai sabotou a oportunidade; aconteceu um mal-entendido e ele acabou recusando o emprego.

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